Que voz vem no som das ondas,

Que voz vem no som das ondas,
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutarmos, cala,
Por ter havido escutar.

E só se, meio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos,
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.

São ilhas afortunadas,
São terras sem ter lugar,
Onde o rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando,
Cala a voz, e há só mar.

PESSOA, Fernando. Mensagem. São Paulo: Martin Claret, 2003, p. 54.

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