Prece

Ó Deus! Quem és tu?
Que nomes moram no teu mistério sem fim?
Ninguém jamais te viu.
Passas como o Vento, e só ficam as marcas da tua passagem, gravadas na memória: o sentimento de beleza, o sentimento de tristeza, o corpo que espera, sem certeza, como um poema na carne.

Tua face, nunca vi. Só conheço as muitas faces da minha saudade.

E se te chamo pelo nome de Pai e pelo nome de Mãe, é porque estes são os nomes da minha nostalgia, no bater binário do desejo...

As estórias são verdadeiras: nenhuma mãe é grande que chegue para satisfazer a nossa nostalgia. Porque esta mãe com que sonhamos teria que ser bela e terna como a Pietá, e o seu colo teria de ser do tamanho do universo inteiro.

Nele se deita o próprio filho de Deus. Ó Deus, a nossa nostalgia só será satisfeita se esta mãe viver em ti. Assim, quando do fundo da tristeza gritarmos, "Ó mãe, estou perdido", ouviremos a resposta maternal: "Meu filho, estou aqui..."

Rubem Alves

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